Todos que estamos na área da educação nas séries iniciais do Ensino Fundamental, reconhecemos que uma mudança significativa nas concepções de aprendizagem e ensino da língua escrita vem ocorrendo desde os anos 80.Essa mudança decorre principalmente da Psicologia Genética piagetiana que na década de 80 traz uma nova compreensão do processo de aprendizagem da língua escrita, através das pesquisas e publicações de Emília Ferreiro. Tal fato obrigou a uma revisão radical das concepções do sujeito aprendiz da escrita e de suas relações com esse objeto de aprendizagem, a língua escrita.
Se por um lado essa mudança ocorreu e é realmente significativa, por outro percebemos que ela não atingiu a totalidade dos professores que atuam com classes de alfabetização no Ensino Fundamental, do Pré III até 2ª série,ensino de 9 anos.
Atualmente, defrontamos com basicamente dois tipos de professores alfabetizadores: o professor que valoriza o produto- final ( ler e escrever ) e entende- o como aquisição de habilidades ( coordenação- motora, discriminação visual, auditiva, etc) e uma segunda corrente que entende a alfabetização como a compreensão do modo de construção do conhecimento, daí a valorização das hipóteses que a criança desenvolve sobre a escrita.
Essas duas concepções determinam as diferenças na prática pedagógica e nos resultados que as crianças alcançam.
Como professora alfabetizadora dediquei muitos anos a primeira vertente acima apresentada ( o professor que valoriza o produto- final) até que comecei a questionar a eficácia do método utilizado e iniciei um ciclo de mudanças: esta ou aquela cartilha, este ou aquele material ou até a mistura deles.
É claro que esta situação de indecisão refletia também um sistema educacional que é falho ao capacitar seus professores, mas não é esse aspecto que pretendo focalizar no momento.
A verdade é que em dado momento da minha profissão optei pela segunda vertente: “entender a alfabetização como compreensão dos meios que a criança utiliza para representar a construção do seu conhecimento sobre a língua escrita” (Kramer,1986).
Isso significou entender o processo evolutivo dos meus alunos, tornando-se assim, imprescindível conhecer determinados aspectos desta evolução, essenciais para uma prática pedagógica consciente.
Eis porque escolhi relatar neste texto uma das possibilidades de ação docente na orientação do processo de aquisição da base alfabética do sistema de escrita, dentro dos pressupostos de pressupostos construtivistas: a Sondagem da Escrita.
A Sondagem da Escrita é um recurso essencial para o professor alfabetizador, pois permite identificar quais hipóteses as crianças têm acerca do funcionamento da língua. Só assim o professor estará apto a realizar mediações que permitam efetivamente a construção da base alfabética da escrita.
Faz-se, portanto, necessário apresentar uma breve análise dos níveis conceptuais lingüísticos, os quais apresento com a nomenclatura mais conhecida entre os professores:
1-Nível Pré - silábico
a) Fase Pictórica: a criança registra garatujas e desenhos.
Exemplo: > # ¨ {(FLOR) __))00 (MESA)
b) Fase Gráfica Primitiva: a criança registra símbolos ou letras misturadas com números.
Exemplo: NO21 (CARRO) WRV6N (ÁRVORE)
c) Fase Pré-Silábica: a criança começa a diferenciar letras de números, desenhos ou símbolos. Exemplo: TRAQ (CASA) AIVNOAXE (ABACAXI)
2. Nível 2: Silábico: a criança conta os “pedaços sonoros”, isto é, as sílabas, e coloca um símbolo (letra) para cada pedaço. Essa noção de cada sílaba corresponder a uma letra pode acontecer com ou sem valor sonoro convencional.
Por exemplo: AO ( GATO ) ou GT ( GATO ) c/valor sonoro
LI (GATO) ou EI (GATO) s/ valor sonoro
3. Nível 3: Silábico- Alfabético: é um momento conflitante, pois a criança precisa negar a lógica do nível silábico. É quando o valor sonoro torna-se imperioso, e a criança começa a acrescentar letras principalmente na primeira sílaba.
Por exemplo: TOAT (TOMATE)
4. Nível 4: Alfabético: a criança reconstrói o sistema lingüístico e compreende a sua organização.
Exemplo: ela sabe que os sons L e A são grafados LA e que T e A são grafados TA e que, juntos, significam LATA.
5. Ortográfico : a criança apresenta-se na fase alfabética e necessita de intervenção do professor na ortografia.
Exemplo : conheceno;convesa;lipesa;,vamus; pasarino;aí ele passo lá; aí ele foi juto
o pedlero é ipotate pala noise.
meupaiconeçel um muler oteme. (hipersegmentação) de mais
o pa as ri no fo avu andu no cel. (hiposegmentação) de menos
REALIZANDO UMA SONDAGEMAS INVESTIGAÇÕES SOBRE A PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA PERMITEM AO PROFESSOR ATUAR COMO MEDIADOR NO PROCESSOR ENSINO-APRENDIZAGEM E FORNECER PISTAS PARA O APRENDIZ TORNAR-SE ALFABÉTICO.NESSE PROCESSO, A SONDAGEM DIAGNÓSTICA CAPACITA O EDUCADOR A CONHECER AS HIPÓTESES DAS CRIANÇAS ENVOLVIDAS.PARA REALIZAR UMA SONDAGEM ESCOLHE-SE QUATRO PALAVRAS (UMA POLISSÍLABA,UMA TRISSÍLABA,UMA DISSÍLABA E UMA MONOSSÍLABA,NESTA ORDEM) E UMA FRASE DE UM MESMO CAMPO SEMÂNTICO.UMA DAS PALAVRAS DITADAS ANTERIORMENTE DEVE APARECER NESTA FRASE.
EXEMPLO": Lista de animais
DINOSSAURO
JACARÉGATOCÃO
O GATO DORMIU NA SALA.
Evitar palavras com sílabas contíguas ,tipo urubu
PEDE-SE ENTÃO,PARA QUE A CRIANÇA(atividade individual) ESCREVA DO JEITO QUE SOUBER.É IMPORTANTE PEDIR PARA QUE ELA LEIA,APONTANDO AS LETRAS E OS SINAIS CORRESPONDENTES À FALA.A PARTIR DO MATERIAL INVESTIGADO EM UMA SONDAGEM,PODE-SE REFLETIR SOBRE O PENSAMENTO DA CRIANÇA E PERCEBER SUA HIPÓTESE LINGUÍSTICA.
Esta sondagem deve ser realizada individualmente, na primeira semana de aula e a cada 15 ou 30 dias de acordo com a evolução da classe. assim formar na sala grupos de trabalhos com hipóteses próximas.Esse agrupamento tem por finalidade a desestruturação das hipóteses pré-silábica, silábica e silábica - alfabética e por meio de conflito, assimilação e acomodação, chegar à hipótese alfabética
COMO A SONDAGEM DEVE SER UTILIZADA
* INSTRUMENTO PARA ANALISAR AS HIPÓTESES DA CRIANÇA A PARTIR DE ATIVIDADES SIGNIFICATIVAS,COLOCANDO A CRIANÇA DIRETAMENTE EM CONTATO COM O DESAFIO DE ESCREVER.
* SUBSÍDIO PARA O PROFESSOR;
* INSTRUMENTALIZADOR DO PROCESSO;
* CONHECER O QUE A CRIANÇA PENSA DE FORMA GERAL SOBRE A ESCRITA,QUAL A LÓGICA QUE UTILIZA NAQUELE MOMENTO PARA ESCREVER;
* ANALISAR AS HIPÓTESES DAS CRIANÇAS A PARTIR DE UMA PROPOSTA SIGNIFICATIVA,QUE FAZ PARTE DE UMA SEQUÊNCIA DE ATIVIDADE,ELA SABE PORQUE ESTÁ ESCREVENDO E PARA QUE ESTÁ ESCREVENDO,TENDO UMA FUNÇÃO SOCIAL;
* COLECIONAR PRODUÇÕES DAS CRIANÇAS:COM ESSE MATERIAL É POSSÍVEL FAZER UM ACOMPANHAMENTO PERIÓDICO DA APRENDIZAGEM DA CRIANÇA E FORMULAR INDICADORES QUE PERMITAM TER UMA VISÃO DA EVOLUÇÃO DA HIPÓTESE DE ESCRITA DA CRIANÇA AO LONGO DO PROCESSO.
OBJETIVOS DA SONDAGEM
*INSTRUMENTO PARA MAPEAR O CONHECIMENTO DAS CRIANÇAS SOBRE A ESCRITA;
* REORIENTAR SUA PRÁTICA PEDAGÓGICA;
*MATERIAL DE PESQUISA PARA DEFINIR AS POSSÍVEIS INTERVENÇÕES;
* ELABORAR SEU PLANEJAMENTO,PROPONDO SITUAÇÕES CAPAZES DE GERAR NOVOS AVANÇOS NA APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS;
*OBTER DADOS SOBRE O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE CADA CRIANÇA.
PALAVRAS do mesmo de Campos semânticos para diagnóstico: Não esqueça a frase
Partes do corposobrancelha
cabeça ou barriga;orelha
perna ou braço;dedo;unha
pé ou mão
O menino machucou _ _ _ _
Material escolarlapiseira;apontador
caderno ou caneta;massinha;mochila
livro ou lápis;papel;cola
giz
Animaismariposa ou dinossauro;rinoceronte
formiga ou,esquilo, coelho
tigre ou onça;urso
cão ou rã
O tigre está na floresta
Flores· crisântemo
· begônia
· rosa
· lis
Alimentosespaguete
açúcar
leite
sal
Festa Junina· bandeirinha
· pipoca
· bingo
· som
na sala temcomputador
estante
sofá
som
Doces· gelatina;brigadeiro;pirulito
· paçoca;geléia
· pudim;torta
· mel;bis
Higienesabonete
escova
talco
gel
Temperos· cebolinha
· pimenta
· alho
· sal
Ferramentas· furadeira
· martelo
· chave
· pá
Brinquedos· escorregador
· boneca
· bola
· pá
Sentimentos· felicidade
· carinho
· amor
· paz
Bebidas· vitamina
· refresco
· café
· chá
Escritório· grampeador;computador
· caneta
· mesa;papel
· giz
Famíliaafilhado
madrinha
sogra
mãe
Utensílios de limpeza
aspirador
vassoura
balde
pá
Algumas conclusões
Neste contexto é preciso que o professor possua conhecimentos e habilidades específicos, os quais permitirá a ele dirigir e orientar com segurança as tentativas de escrita da criança, saber identificar em que estágio do processo de apropriação do sistema a criança se encontra, saber interpretar as hipóteses, selecionar e organizar dados, decidindo que aspectos devem ser priorizados e saber, acima de tudo, levar a criança a confrontar as suas hipóteses com as convenções e regras do sistema e a partir de tudo isso conduzi-la à escrita ortográfica.
Essa nova concepção exige um professor:· Que aceite o pressuposto básico que o aluno é sujeito do seu próprio conhecimento, ou seja, constrói seu conhecimento.
· Que esteja disposto a compartilhar e pedir ajuda a outros parceiros e professores
· Que não esconda suas frustrações e progressos
· Que seja investigativo e tenha a coragem de mudar
· Que aposte em sua própria capacitação ,individual ou coletiva
· Que se de uma oportunidade ,que faça a diferença
Eis, portanto, o nosso maior desafio:
"Mudar o nosso papel de doador de informações para mediador da aprendizagem!"